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Testemunhos

Eu sou o Miguel Castro e sou voluntário na Quinta Essência desde 2009.

Esta oportunidade de ser voluntário, surgiu da sugestão de uma prima que tinha colaborado com a QE e me perguntou se estaria interessado em dedicar algum tempo a estar com os clientes e educadores. Imediatamente disse que sim e combinámos um dia para lá ir, para que eu conhecesse a Associação, clientes e educadores e falar com quem de direito, para me dizer como é que eu poderia ser útil. 

Fui recebido de braços abertos e vieram comigo dar uma volta pela Quinta Essência, para que eu conhecesse aquele incrível espaço e apresentaram-me ao educador com o qual eu iria trabalhar quando iniciasse.

Quando regressei à QE, o educador disse-me que sabia que eu gostava muito de cães e pediu-me para ajudar em duas frentes. Na primeira, ajudar e orientar os clientes na limpeza do canil, e na segunda frente, passear pelas imediações da Associação com os clientes e conviver com todos. Fui muito bem recebido pelos clientes, mas como é normal, havia alguma reserva e um pouco de distância, próprias de quando não se conhecem bem as pessoas, mas de um modo geral, a aceitação foi imediata e aí iniciou um processo natural de conhecimento interpessoal. Depressa me apercebi, que o aluno era eu, eu não estava ali para ensinar ninguém, eu estava ali para aprender e ir conhecendo todos. Fui desenvolvendo uma proximidade muito grande com os clientes da QE com a ajuda preciosa daquela Família de educadores extraordinários que lá trabalha e que foram e são basilares nesta experiência única que tenho tido ao longo de mais de uma década. 

Comecei como voluntário, mas, algures no tempo, esse conceito esvaiu-se e hoje em dia vou lá visitar Amigos. Não falto. Não há melhor receção do que aquela que eu tenho às Terças-Feiras quando entro na QE. A alegria esfuziante de alguns e as “bocas” de outros a gozarem comigo porque me conhecem muito bem e sabem que me gosto de rir, não tem preço.

Durante o último ano, com tudo o que aconteceu, as atividades terem sido suspensas devido ao confinamento e o facto de não poder lá ir, foi muito duro, mas adorei o cuidado que alguns dos clientes tiveram para contrariar esse facto, servindo-se da tecnologia para me ligarem e matar as saudades, para isso, não há palavras.

Muito obrigado ao Universo da Quinta Essência!

Apresentamos a voluntária Christiane Kaiser, que se encontra na QE no âmbito do voluntariado em colaboração com a ProAtlântico através do programa Corpo Europeu de Solidariedade financiado pela Comissão Europeia.

De onde vens? Fala-nos do teu país!
Eu venho da Áustria, um país muito diferente de Portugal. Em primeiro lugar, na Áustria não temos acesso ao mar, o que é algo triste, na minha opinião. Mas apesar disto, o meu país tem muito a oferecer – temos muitas montanhas onde fazemos sky e caminhadas, lagos lindíssimos onde podemos nadar no Verão, e cidades lindas como Viena ou Graz, muito agradáveis de visitar. 

Porquê que decidiste fazer voluntariado com pessoas com deficiência?  
Eu nunca tinha trabalhado com pessoas com deficiências antes e quando conheci este projeto da Associação QE fiquei muito interessada em participar. Queria aprender mais sobre a área da deficiência e ter a experiência de trabalhar com esta população. 

Como é o teu dia-a-dia na QE? 
Ao longo do meu dia na QE participo em diversas atividades, dando apoio aos educadores e passando tempo de qualidade com os clientes. As atividades são diferentes todos os dias, e eu adoro isto no meu trabalho pois torna o cada dia muito diferente do anterior. Honestamente não consigo dizer em que atividade gosto mais de participar. Alguns dias prefiro as atividades de trabalhos manuais e noutros dias as atividades de culinária, ou dança, por exemplo.

O que aprendeste até agora, através do teu contacto com as pessoas com deficiência? 
Em primeiro lugar, aprendi a importância de ver a pessoa e não a sua deficiência. Todos os clientes são tão diferentes e cada um tem a sua personalidade única – são todos pessoas muito interessantes de se conhecer. Olhar olhos nos olhos e não nos colocarmos numa posição superior torna possível que nos liguemos num nível mais profundo e que seja possível estabelecer uma relação. 

O que te surpreendeu mais?
O que me surpreendeu mais foi a sua capacidade de “ler” as emoções - a sua inteligência emocional é muito elevada. Aconteceu-me mais do que uma vez, um cliente aproximar-se de mim e perguntar se estava tudo bem comigo, pois parecia-lhe que eu estava preocupada.

Algum momento do teu voluntariado na QE que recordas mais?
Lembro-me deste momento muito bem, o momento em que um dos clientes me disse que estava muito feliz pois o meu Português estava a melhorar e passava assim a ser mais fácil para comunicarmos. 

Até ao momento qual o maior desafio que enfrentaste ao ser voluntária?
A parte mais desafiante foi sem dúvida o início do voluntariado, pois eu não sabia falar nada de Português o que tornava a comunicação com os clientes mais complicada. Demorei um pouco a perceber como a interagir com os clientes pois tive de os conhecer primeiro. Felizmente o período de integração passou e o meu trabalho de voluntariado, torna-se melhor dia após dia. 

O que pensas que as pessoas deveriam saber da Associação QE?  
Penso que as pessoas devem saber o ambiente que se vive na QE. As instalações criam um ambiente acessível a todos e é dada enfase a valores como a entreajuda, a paciência e a educação. 

Para mim a QE é como uma grande família, onde todos são apreciados e importantes.  

Qual o teu conselho a quem pretende fazer voluntariado junto de pessoas com deficiência
Penso que o meu conselho seria para estarem atentas, as pessoas com deficiência são geralmente muito físicas.

Da minha experiência em particular, gostam de abraçar e beijar – uma forma de expressarem as suas emoções. E não há problema se lhes dissermos se em determinado momento não queremos fazer o mesmo que eles ou se há algo que não gostamos.  

No final de contas, ser honesto com eles sobre o que sentimos beneficia todos pois torna a relação mais honesta e sincera. 

Qual o impacto que pensas ter tido o Covid-19 no teu voluntariado? 
Sem dúvida que o Covid-19 teve impacto na minha experiência enquanto voluntária. 

Desde logo, faço voluntariado no CAO e por esse motivo não interajo com os clientes dos Lar que participam noutras atividades, separadamente dos clientes do CAO, por motivos de segurança. 

Havia atividades que decorriam fora das instalações da QE que por causa do COVID-19 foram suspensas. Mesmo assim, gosto muito de participar nas atividades e estão muito feliz por ter vindo fazer voluntariado na QE, apesar da pandemia e dos constrangimentos criados por ela.

A Associação QE conta com o voluntário Jean Geimer, de nacionalidade alemã, em colaboração com a Proatlântico - Associação Juvenil, através do Corpo Europeu de Solidariedade financiado pela Comissão Europeia.

Portanto, a nossa tarefa não é cingirmo-nos às deficiências, e restringir as pessoas com base em reivindicações pessoais ou da sociedade, para satisfação própria ou mesmo para encher o bolso.

O que é “perfeito” neste contexto, o que é importante? Será uma determinada carga de trabalho ou o tempo passado com o ser humano que está por trás?

Respeito, carinho, atenção, apoio e dedicação, onde for preciso: esta deve ser uma oferta válida para toda a gente. Qualquer pessoa capaz de dar de si deve poder fazê-lo à sua maneira – e crescer com um coração aberto. É esta a verdadeira pedagogia.

Outro aspeto importante é o relacionamento entre os responsáveis: uma família deve passar tempo em conjunto com regularidade de forma a que se possam trocar ideias e sentimentos abertamente. Frequentes causas de insatisfação devem ser mudadas ou atenuadas. Conseguem os vários membros manter-se unidos? Onde quer chegar a família? Como seria sem a solidariedade entre os membros? Quem cuida do cuidador e como? Quem recebe e quem dá? Gratidão e afeto são o mínimo que devem dar uns aos outros. E já agora: uma boa refeição levanta sempre o ânimo de um batalhão e o mesmo vale para o bom humor de uma família.

Do meu ponto de vista não existe diferença entre como eu ajo com os cuidadores e com os clientes; não há hierarquia, nem objetivo a alcançar, apenas a satisfação de sentir que eles têm tudo aquilo de que precisam.

Mesmo quando eles estão na lua, até o foguetão é passível de ser amado.

Ver como, na sociedade, e em particular em zonas protegidas criadas para o efeito, as discrepâncias internas acabam por excluir os outros; ver como os mais fracos são instrumentalizados para compensar os nossos próprios problemas, e como pessoas que não querem saber se descuram a si mesmas e aos demais é profundamente doloroso neste contexto.

Se não há necessidade de uma autoridade entre nós, então não somos desautorizados quando não nos “obedecem”. Quem é que de facto cuida? Quem sara as feridas de quem? Podemos aprender tanto uns dos outros.

Qualquer forma de agressividade para com eles é antes de mais uma ofensa ao próprio, um insulto à Humanidade em cada um de nós. Todos possuem uma certa capacidade de empatia, mas devemos saber usufruir dela. O que eles dão é atenção; o que nós devemos dar é nada menos que isso!

Seja com um abraço, um beijo ou uma risada partilhada, seja com a atenção que nos damos mutuamente, seja estirar-se no chão, ajudar ou cantar bem alto no jardim com um amigo recém-descoberto:

“We are the world, We are the children
We are the ones who make a brighter day,
so let's start giving!
There's a choice we're making
We're saving our own lives
It's true we'll make a better day,
just you and me”

A Irem Kosif é uma jovem voluntária na Associação QE, no âmbito de um projeto em colaboração com a ProAtlântico através do Serviço Voluntário Europeu, financiado pelo programa Erasmus + da Comissão Europeia.

A vida traz-nos sempre desafıos, mas na QE os desafios que surgiram foram diferentes. O primeiro desafio foi a linguagem, mas cedo deixou de o ser pois descobrimos formas especiais de comunicar: por vezes comunicamos através de um grande abraço ou de um pequeno gesto ou toque, por vezes comunicamos nas nossas respetivas línguas nativas, por vezes basta o silêncio, ou rir ou apertar as mãos.

Um outro desafio foi fazer amigos. No primeiro mês eu queria falar com a Olga, uma das clientes da QE, mas não era fácil. Aproximadamente durante 3 semanas todas as manhãs eu dizia-lhe “Olá!” mas ela nunca respondia e por vezes nem sequer olhava para mim. Mas um dia, sem contar com isso, quando estava a dar um passeio pelos jardins da QE, a Olga veio ter comigo e deu-me um abraço. O mundo era meu! E agora sou uma das amigas dela.

Atualmente sei que todos os desafios que eu possa enfrentar na QE serão ultrapassados e que terei sempre uma recompensa como o grande abraço da Olga. Este é só um pequeno exemplo, há muitas outras memórias e acontecimentos surpreendentes que acontecem diariamente que não consigo exprimir por palavras. Como por exemplo, eu estar a caminhar e de repente aparecer um cliente que me oferece um desenho lindo ou que me pergunta como é que eu me sinto.

Estes são os sentimentos mais importantes que fui descobrindo na QE.

Eu sei o que é amor, o que é a beleza. Todos as pessoas deveriam saber que somos todos humanos e que ninguém é perfeito. Que criamos sim, a perfeição com os pequenos pormenores nas nossas vidas. Não existem julgamentos, não existem fronteiras. Tudo está cheio de um amor que irá durar para sempre e temos de ser positivos e dar positivismo às pessoas à nossa volta. Devíamos dizer mais vezes às pessoas o quão bonitas, criativas ou inteligentes são.

Todos nós temos falta de confiança e todos procuramos o amor, mas antes de tudo devemos dar amor e coragem às pessoas.

A quem considera neste momento em voluntariado, aconselho que abram os vossos corações e mentes. Partilhem os vossos sentimentos porque a felicidade entra nas vossas vidas e depois entra na vida das outras pessoas através da partilha.

Se partilhamos o nosso amor, vamos receber o que damos. Amor.